Falta de tempo ou ausência de vontade?
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terça, 29 de abril de 2025

A falta de tempo é algo recorrente em desculpas por ausências e falta de feedback. Nos habituamos a delegar a falta de tempo, como desculpa para coisas que não sabemos lidar. Embora a sociedade de outrora fosse mais serena em seu ritmo, e hoje tenhamos mais correrias cotidianas, é sabido que o tempo é administrável desde que haja interesse. Basta rememorar o que já priorizamos na vida, de virar a noite estudando para um concurso, a vencer quilômetros de estrada para estar com um amor distante. Logo, aqui nos referimos ao senso de prioridade e da nossa vontade, como força motriz.

Estamos nos distanciando uns dos outros. Nossos vínculos estão se diluindo em conversas tecladas em redes sociais, pois nos é caro verbalizar. Atualmente, chega a ser uma honraria quando alguém nos telefona. E se duvidar, recebemos mais ligações do tipo spam do que ligações de amigos e familiares. Sinal dos tempos? Mas que tempo é esse que nos afasta?

O que nos faz ter preguiça de falar com um pai e saber como está? De telefonar para uma avó, e escutar com respeito coisas da sua rotina? O que nos faz maratonar séries no Netflix e não ter tempo de agendar algo com os amigos? Por que nos enganamos que é a falta de tempo que nos consome, quando a verdade reside em nossa ausência de vontade?

Porque é doído admitir nossos desapegos. Isso nos faz examinar sentimentos, ou a ausência deles, sob a égide de uma sociedade que nos vigia.

Estamos aos poucos nos despedindo em vida, sendo exceção aqueles que ainda preservam os tradicionais almoços de família e que se percebem como uma. Da janela da cozinha, aqui no apartamento de Frederico Westphalen - RS, diariamente observo despedidas emocionadas na frente da Capela Mortuária. E, inevitavelmente me pergunto? Será que o defunto era tão visitado como agora em sua morte? Revisito minha infância, e o sentido de família aguça, aquecendo o coração. Ao passo que revejo meus passos como mãe, e se minha escolha em trabalhar tão longe foi a devida.

Nas famílias, sempre existe aquele que é o aglutinador, o que reúne todos, o que organiza as festas de família e, depois que essa pessoa morre, a casa fica vazia. Sou do time daqueles que gostam de reunir a família, de promover festas surpresa, de cozinhar a ceia do Natal, mesmo que isso vire poeira na estrada da vida dos que participam. Pois não faço para lembrarem de mim, quando eu não estiver mais aqui. Faço porque ainda existe vontade e afeto. “A vida é curta, viva. O amor é raro, aproveite. O medo é terrível, enfrente. As lembranças são doces, aprecie.” (Caio Fernando Abreu).

 

Bons Ventos! Namaste.

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