As transformações sociais das últimas décadas têm acentuado as diferenças entre gerações. As pesquisas realizadas pelo IPO – Instituto Pesquisas de Opinião vêm demonstrando que as diferenças geracionais estão se acentuando, especialmente no que diz respeito à visão de mundo entre aqueles com mais de 40 e os com menos de 40 anos. Para as pessoas da geração X e os Baby Boomers, era mais fácil compreender e identificar os valores sociais e os comportamentos coletivos impostos pela sociedade. Havia certo protocolo, uma espécie de roteiro que guiava os momentos marcantes da vida: namoro, noivado, casamento e a constituição de uma família, tudo dentro de uma lógica de comportamento que moldava o conceito de família tradicional. O mundo era mais fácil de ser entendido!
Naquele contexto, acreditava-se saber o que era certo e o que era errado, o que tornava simples julgar e até condenar comportamentos vistos como fora da curva. A sociedade tinha clareza sobre seus códigos e isso facilitava as interações. Hoje, muitas dessas pessoas olham para o cenário atual e enxergam uma realidade complexa. Navegar socialmente tornou-se mais difícil, justamente porque o comportamento coletivo deu espaço ao individual. Há até certo receio em fazer perguntas consideradas corriqueiras: “o fulano tem namorada?”, “pensa em casar?”, “quer ter filhos?”. Essas questões passaram a ser vistas como invasivas ou politicamente incorretas.
Por outro lado, as pessoas com menos de 40 anos, que compõem as gerações Y e Z, estão crescendo e vivendo em meio a transformações tecnológicas aceleradas, em contextos sociais mais diversos e plurais. Para elas, os valores individuais têm prioridade. O roteiro de vida deixou de ser uma sequência obrigatória e virou um mapa com múltiplos caminhos. O conceito de família se expandiu para incluir diferentes formas de vínculo afetivo e não necessariamente envolve filhos, casamento e bens materiais. Inclusive, muitos não se preocupam em sair da casa dos pais, tendo em vista que não há protocolo a seguir.
Essas gerações valorizam a autenticidade, a liberdade de escolha e a autonomia para definir seus próprios marcos. Por isso, perguntas como “vai casar?” ou “quando vêm os filhos?” podem soar desconfortáveis, pois partem de uma lógica que nem sempre dialoga com a atual visão de mundo.
A comunicação entre essas gerações se torna mais cuidadosa, ao mesmo tempo em que há receio de ultrapassar limites ou ferir, de alguma forma, pois a paciência é cada vez mais curta. Ou seja, é mais fácil falar sobre o que está acontecendo nas redes sociais, das Fake News do momento ou dos golpes digitais da semana do que falar dos medos, sonhos e expectativas.
Enquanto os mais velhos enxergam confusão onde antes havia ordem, os mais jovens veem possibilidades onde antes havia restrição. O mundo deixou de ser linear e virou um mosaico de experiências singulares. O grande desafio hoje é construir pontes entre essas visões, reconhecendo o valor das referências do passado sem ignorar a potência das escolhas do presente. Temos que encontrar o melhor entre os dois mundos!
