Persona catarinense: o Conservadorismo como motor da evolução
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terça, 12 de agosto de 2025


Sou uma cientista social raiz, com formação em sociologia, antropologia e ciência política, e prestes a completar três décadas de atuação na área. Ao longo dessa caminhada, construí um repertório de instrumentos analíticos, desenvolvi uma compreensão profunda dos caminhos que precisam ser trilhados e, sobretudo, alcancei a clareza de que quanto mais se aprende, mais claro se torna o quanto ainda há por conhecer.
Essa consciência não é apenas fruto da experiência, mas também do contato constante com investigações que revelam as complexidades do comportamento humano. O IPO – Instituto Pesquisas de Opinião tem avançado significativamente em suas metodologias de análise da sociedade, e a cada estudo nos aproximamos mais da compreensão de quem somos e por que agimos como agimos. E é fato que temos muitos papéis: como pessoas, cidadãos, consumidores, profissionais ou eleitores. 
Neste contexto, compartilho os principais achados de uma pesquisa realizada pelo IPO, a pedido da Critério Resultado em Opinião Pública, sobre a persona catarinense, que não deixa de ser um retrato revelador das singularidades que moldam o modo de ser em Santa Catarina.
Ser catarinense é carregar no coração o orgulho pela terra e na alma a convicção de que o esforço pessoal é o caminho legítimo para o sucesso. A pesquisa revela uma sociedade que valoriza a autonomia, desconfia das instituições, mas acredita na força da comunidade e na capacidade de cada indivíduo de transformar sua realidade. 
A visão empreendedora é um traço marcante: o sucesso é atribuído ao mérito individual e o trabalho é mais do que uma obrigação, é um valor coletivo transmitido socialmente, que orienta decisões, molda trajetórias e constrói identidades. 
O catarinense vê o trabalho como motor do progresso, a base da dignidade e da realização pessoal. Essa ética do fazer está presente nas escolhas cotidianas, na forma como se consome, se planeja e se sonha. 
Conservador nos valores, exigente nas relações e profundamente conectado à sua cultura, o consumo em Santa Catarina é marcado por uma busca por qualidade, durabilidade e identidade. Os catarinenses valorizam marcas que dialogam com seus valores e que se posicionam de forma clara.
Mesmo com uma diversidade entre as regiões, faixas etárias e estilos de vida, há uma coesão que une: o amor pela terra, a valorização da estabilidade e a crença de que o futuro se constrói com coragem, autenticidade e ação. 
Ao concluir a pesquisa, nos deparamos com uma inquietação instigante: por que o povo mais conservador do Sul do Brasil, em termos de valores e costumes, é também aquele que mais se destaca em empreendedorismo e inovação? Essa pergunta norteou uma análise comparativa entre os comportamentos do gaúcho, do paranaense e do catarinense, e se transformou em uma grande tese a ser explorada.
Movida por essa provocação, a equipe do IPO mergulhou em diversas hipóteses até chegar a uma compreensão central: a identidade e os valores morais e sociais da população catarinense estão profundamente conectados à valorização do trabalho. Nesse contexto, o conservadorismo não atua como barreira à mudança, ao contrário, funciona como alicerce da jornada empreendedora.
O conservadorismo catarinense oferece estabilidade simbólica e cultural, permitindo que o trabalho e a inovação se desenvolvam como expressões das crenças coletivas, e não como ameaças a elas. Em Santa Catarina, inovar não significa romper com o passado, mas sim reafirmar valores por meio da ação. É uma sociedade que transforma tradição em potência criativa, onde o fazer está a serviço do ser.
 

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