Chuvas intensas entre os dias 16 e 22, e de 26 a 29 de junho, provocaram perdas de solo, erosão e prejuízos em propriedades rurais da região de Frederico Westphalen. O levantamento semanal da Emater/RS-Ascar apontou acumulados superiores a 200 milímetros em diversos municípios - não contabilizando os acumulados do final de semana. Felipe Lorensini, engenheiro agrônomo e doutor em ciência do solo da Emater regional, explica que a principal consequência das chuvas foi a erosão. “O grande problema foi a perda de solo, especialmente onde o trigo já havia sido semeado e o solo estava revolvido”, afirmou Lorensini.
Trigo prejudicado
A cultura do trigo ainda está em fase inicial. Cerca de 60% da área esperada já foi semeada. Segundo Lorensini, o impacto direto na lavoura ainda é limitado, mas a chuva comprometeu a uniformidade das áreas recém-plantadas. “Algumas lavouras terão falhas por conta da erosão e do carregamento das sementes”, relatou o extensionista. Pastagens e áreas de cultivo para alimentação animal também foram afetadas. O excesso de umidade e a baixa luminosidade causaram estagnação no desenvolvimento das plantas. “Tivemos de cinco a seis dias com céu nublado ou chuva contínua, sem presença de sol”, detalha o agrônomo. Além disso, o pisoteio dos animais em solo encharcado agravou a situação das áreas de pastagem. Segundo Lorensini, a estrutura do solo foi comprometida. “Com o solo sem sustentação, o dano pelo pisoteio é maior e dificulta a recuperação do pasto”, destacou.
Municípios afetados
Entre os municípios mais atingidos pelas chuvas estão Pinheirinho do Vale, Seberi, Boa Vista das Missões e parte de Palmeira das Missões. Nestas localidades, segundo Lorensini, a precipitação se somou à presença de áreas de trigo recentemente plantadas, o que favoreceu o surgimento de erosões. Outro fator apontado pela Emater é a menor cobertura do solo entre a colheita da soja e a semeadura do trigo. “No ano passado, tivemos maior uso de plantas de cobertura. Neste ano, por questões financeiras, muitos produtores não conseguiram investir”, explica.
Sem possibilidades de investimentos
Com a descapitalização causada por eventos climáticos recentes e pela queda nos preços de grãos, muitos agricultores enfrentam dificuldades para investir em práticas de conservação do solo. “A maioria só conseguiu realizar medidas paliativas após a enchente anterior. Poucos puderam reestruturar as áreas com técnicas mais robustas, como terraceamento ou aplicação de corretivos”, destaca.
Como forma de enfrentamento, Lorensini defende o investimento em sistemas produtivos mais resilientes. “Precisamos tornar o sistema mais estável, com práticas como rotação de culturas, uso de plantas de cobertura, integração lavoura-pecuária e escalonamento de plantio”, recomenda.
Terra forte
Felipe Lorensini destaca ainda a importância do Programa Terra Forte, do governo estadual, que foi apresentado sexta-feira, 27, na URI/FW, nas quais serão investidos na regional de FW cerca de R$ 62 milhões para recuperação de solos e da agricultura famliliar. “O programa oferece apoio técnico e financeiro para adoção de práticas conservacionistas, com o objetivo de reduzir os efeitos de eventos extremos, como excesso ou falta de chuva”, finalizou.