O Rio Grande do Sul encerrou 2024 com 349 cervejarias registradas, segundo o Anuário da Cerveja 2025, divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária em parceria com o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja. O Estado segue como o segundo maior polo cervejeiro do país, atrás apenas de São Paulo, e lidera a densidade nacional, com uma cervejaria para cada 32.177 habitantes, frente à média brasileira de uma para cada 109.073.
Produção no Médio Alto Uruguai
Na região do Médio Alto Uruguai, a atividade também se consolidou. Entre as principais marcas estão a Wolff, em Vicente Dutra; a Mina Beer, em Ametista do Sul; a Distrito 1963, em Rodeio Bonito; e a Topa Beer, em Frederico Westphalen. Essas cervejarias representam a expansão do setor em cidades do interior, acompanhando a tendência estadual de descentralização da produção.
“Buscamos diferenciação pelo frescor e pela produção artesanal” — Eduardo Wolff (Cervejaria Wolff)
A Cervejaria Wolff possui capacidade instalada de cerca de 40 mil litros por mês. “Enfrentamos dificuldades para encontrar mão de obra qualificada e também dependemos de fornecedores de centros distantes, o que eleva custos e prazos. Por isso, investimos em capacitação interna e parcerias regionais, buscando manter a regularidade da produção”, afirmou Eduardo Wolff, diretor executivo da marca.
Em Rodeio Bonito, a Distrito 1963 tem capacidade para até 50 mil litros por mês. A sócia-proprietária, Patrícia Lídia Savoldi, destaca que o principal desafio é manter o controle dos processos de higiene e da qualidade das matérias-primas. “Seguimos as normas do Ministério da Agricultura, monitorando malte, lúpulo, levedura e o tratamento da água em cada estilo de cerveja, buscando sempre o equilíbrio para entregar um produto padronizado”, explicou.
Concorrência e mercado regional
O setor regional enfrenta a concorrência direta com grandes indústrias, mas também busca diferenciação. “Concorrermos com empresas de grande porte, que têm vantagens em escala e tributação. No mercado local, buscamos diferenciação por meio da proximidade com o consumidor, do frescor do chope e da produção artesanal”, completou Wolff.
“Nosso público procura excelência, e não apenas preço.” — Patrícia Savoldi (Distrito 1963)
Na avaliação de Patrícia Savoldi, a concorrência entre as microcervejarias locais não é vista como disputa, mas como complementaridade. “Cada um tem seu foco e planejamento. Muitos nos completamos em estilos de produtos que um fabrica e outro não, então vemos os colegas como parceiros de profissão, não como concorrentes”, afirmou. Ela acrescenta que, no caso do Distrito 1963, a busca por qualidade é o diferencial. “Nosso público procura excelência, e não apenas preço. Sempre priorizamos entregar o melhor produto, não o mais barato. Trabalhamos com matérias-primas importadas e selecionadas dentro de um padrão rigoroso, o que garante estabilidade e sabor de puro malte. Além disso, temos estilos exclusivos, o que também nos diferencia no mercado”, ressaltou.
“Há um movimento de beber menos, mas com mais qualidade.” — Cleverton Ferigollo (Topa Beer Cervejaria)
Outro exemplo é a Topa Beer Cervejaria, de Frederico Westphalen, que atua integrada à Vinícola Ferigollo. A empresa iniciou em 2016 e hoje combina rótulos próprios com a terceirização de parte da produção para outras marcas da região. “A concorrência é intensa, e muitas vezes os pequenos precisam agregar valor em cada litro. Enquanto uma grande indústria pode lucrar com a produção em massa, nós precisamos buscar diferenciais, como estilos sazonais. Trabalhamos, por exemplo, com chope de bergamota e de morango, que tiveram boa aceitação no mercado”, destacou Cleverton Ferigollo.
Segundo ele, o comportamento do público também mudou. “As pessoas estão migrando do chope tradicional para cervejas mais elaboradas, como a IPA. Há um movimento de beber menos, mas com mais qualidade”, completou.
Rio Grande do Sul como referência nacional
O executivo da Associação Gaúcha de Microcervejarias (AGM), Gustavo Cunha, reforça que o Estado se mantém como referência. “O setor gaúcho registrou crescimento de 4,2% em número de estabelecimentos em 2024. Além de liderar em densidade, Porto Alegre é a segunda cidade do Brasil com mais cervejarias, 43 no total, atrás apenas de São Paulo. Mesmo após as enchentes, a cadeia produtiva segue ativa, apoiada pela AGM na busca por políticas públicas e pelo fortalecimento das microcervejarias”, destacou.
O anuário também mostra que o mercado de bebidas sem álcool cresceu 536,9% no país em 2024, chegando a 4,9% da produção total. No Rio Grande do Sul, a diversificação de produtos e a consolidação de polos regionais reforçam a participação do setor tanto na economia quanto no turismo.