A democracia exige confiança na política e nos políticos. Mais do que cargos e governos, a política depende da crença da população e do engajamento, com reflexões que devem estar presentes em instituições sociais como a família e a escola, até chegar em associações, sindicatos e partidos.
Na prática, a política está em tudo o que vivemos, nos pequenos gestos do dia a dia e nas grandes decisões que moldam o Brasil. Ela não se resume a disputas eleitorais ou a cargos públicos, vai muito além disso. A política é a arte de se relacionar, de dialogar, de construir caminhos coletivos. Está na cortesia entre vizinhos, no respeito às diferenças, na busca por soluções que beneficiem a cidade que temos e nos ajuda a pensar na cidade que queremos ter.
Entretanto, a forma como a política vem sendo deturpada nos distancia de seus princípios. É evidente que, ano após ano, a desconfiança na política se intensifica devido às próprias ações dos políticos. A decepção do eleitor se mantém viva diante da precarização dos serviços públicos, especialmente em áreas como saúde e educação. Além disso, o cenário político parece cada vez mais marcado por leis que favorecem os legisladores e por sucessivos casos de corrupção, reforçando a sensação de distanciamento entre representantes e representados. Tanto é que 70% dos entrevistados não lembram a quem destinaram o voto para deputado na última eleição.
E o cenário político de 2025 continua conturbado. As pré-campanhas presidenciais dominam as “ruas”, enquanto o Congresso discute mudanças polêmicas na legislação e no controle de recursos parlamentares. O STF conduz um julgamento histórico contra os acusados de tentativa de golpe. No meio desse turbilhão, o eleitor demonstra crescente descrença com os três poderes.
Pesquisas nacionais indicam aumento da desconfiança nas instituições brasileiras, sobretudo políticas. O Congresso Nacional, com míseros 9% de confiança, sofre com a percepção de que seus membros priorizam interesses próprios e inflamam discursos nas redes sociais sem entregas concretas.
Diante desse cenário, em cada eleição o eleitor transfere sua confiança para líderes carismáticos, apostando no personalismo político, como ocorreu com Bolsonaro em 2018 e Lula em 2022. Conforme estes líderes não correspondem, o eleitor mostra sua negação. A confiança depositada pela maioria da população em Lula, em 2022, tem se convertido em frustração: 71% dos brasileiros acreditam que ele não cumpriu suas promessas de campanha e mais da metade da população desaprova o governo, avaliando que o Brasil está na direção errada. Para a população, a inflação, mesmo declarada sob controle, não reflete a realidade dos preços nos supermercados e a revisão das faixas do imposto de renda, que deveria beneficiar a classe média e os mais pobres, não avançou como previsto, gerando mais frustração em parte da população.
Neste ambiente, a polarização se torna mais um elemento da cultura política vigente, uma forma de “sobrevivência política do eleitor”. Em cada um dos lados, temos ±¼ de apoiadores, defensores de direita ou de esquerda. No centro, temos o eleitor independente, que acaba escolhendo um lado motivado por esperança ou, até mesmo, por exclusão: “escolhendo o menos pior”. A grande pergunta que me faço há muitos anos: os eleitores “fazem” os políticos ou são os políticos que “fazem” os eleitores?
